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       Imagens da Revolução Mexicana  | 
  
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       Nombre del Autor: Geysa Silva  | 
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     geysas@ig.com.br  | 
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       Palabras
      clave: Novela
      histórica, interacción palabra/imagen, arte mexicana.  | 
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       Minicurrículo: Doctora en Teoría de la Literatura. Profesora de Teoría de la Literatura de la Universidade Federal de Juiz de Fora. Coordinadora del curso de Especialización en Estudios Literarios (UFJF).Coordinadora de Maestría en Letras de la Universidade Vale do Rio Verde. Entre artículos publicados, están: A trama do medo e as máscaras da loucura (sobre Yo el Supremo, de Roa Bastos); Mal de amores, um transbordamento feminino.  | 
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       Resumo:
      Sem ser romance histórico propriamente
      dito, a obra Mal de amores, de Ángeles
      Mastretta, propõe uma leitura livre do episódio da Revolução Mexicana,
      reinventando o passado, preenchendo os vazios deixados pela história
      oficial. O importante, sem dúvida, é a articulação que Mal de
      amores realiza, através da integração
      palavra/imagem, com as obras de Siqueiros e Rivera, conseguindo a
      re-semantização da Conquista e da própria Revolução - possibilidade
      originada das relações entre a estrutura do espaço visual e do espaço
      da escritura.  | 
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       Resumen:
      Sin ser novela histórica, hablando
      propiamente, la obra Mal de amores,
      de Ángeles Mastretta, propone una libre lectura del episodio de la
      Revolución Mexicana, reinventando el pasado, colmando los vacios dejados
      por la história oficial. Lo significativo sin embargo es que Mal
      de amores se sigue articulando a través
      de la interacción palavra/imagen com las obras de Siqueiros y Rivera,
      llevando adelante el proyecto de resemantización de la Conquista y de la
      Revolución misma - possibilidad originada de las relaciones entre la
      estructura del espacio visual y la estructura del espacio de la escritura.  | 
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           Ter
      uma identidade seria, antes de mais nada, ter um país, uma cidade ou um
      bairro, uma entidade em que tudo o que é compartilhado pelos que habitam
      esse lugar se tornasse idêntico ou intercambiável.  Nesses 
      territórios a identidade é posta em cena, celebrada nas festas e
      dramatizadas também nos rituais cotidianos (CANCLINI, 1998, p.190). No
      romance ou nos murais, esses artistas nos dizem o que é o México, em sua
      diversidade, desnaturalizando a cultura e oferecendo ao público o
      sincretismo religioso e político, que desliza do catolicismo para as crenças
      indígenas, do positivismo para a crença na revolução modernizadora;
      para eles, os artistas, o mais importante é a criação de testemunhos da
      História, contrapor aos monumentos da barbárie,
      de que falava Benjamin (1985, p. 225), produtos culturais capazes de
      preencher o vazio deixado pela dupla derrota, perante o colonizador e
      perante as oligarquias locais. Essa busca pelo reconhecimento de si mesmo,
      conduz ao passado histórico,tornando-o presente para revelar que o
      regresso pode ser um progresso. Por isso Mastretta, Siqueiros e Rivera
      apelam para o signo ideológico, passível de diferentes conexões e que
      traz à tona uma História com a possibilidade de rearticular-se
      discursivamente. Essa História é o elo que os une, apesar do espaço de
      tempo que os separa. A esse respeito, Carlos Fuentes declara:  Tenemos
      que recuperar todo ese pasado no
      escrito  es el pasado que se nos escamoteó por la censura, por la
      Inquisición; por el olvido, por muchos factores. De ahí el poder de
      muchísimas novelas, y una novela como Cien años
      de soledad é que es?  sino el enorme esfuerzo de memoria, de
      recuperación del pasado, de darle imaginación a lo no dicho del pasado (FUENTES, 1989, p. 258). Seguindo
      essas pegadas, Ángeles Mastretta nos oferece, em Mal de amores,
      um romance-painel, em que a história da família Sauri se confunde com a
      própria História do México, tendo, como pano de fundo, a Revolução.
      Assim, a trama romanesca vai compondo uma história não revelada
      oficialmente, concretizada numa ficção que reconstrói, não fatos, mas
      situações narradas ao longo dos anos, por gerações sucessivas, num tom
      memorialístico, quase confessional, que confere ao narrador o poder de
      falar com a autoridade de quem ainda sente o frêmito revolucionário. E
      é, movida por esse frêmito e tomada pela paixão, que Ángeles Mastretta
      vai escrever seu livro, na urgência de celebrar a solidariedade do
      individual com o coletivo; porque Mal de amores
      é, antes de tudo, um romance sobre a paixão: paixão amorosa, paixão
      pelo povo, paixão pela pátria. Observe-se esta fala de Emília Sauri: Por
      que os homens cresciam para virar estranhos, para que fossem tomados por
      essa paixão política que dava a ela o mesmo terror que dava à sua mãe? Por
      que estava ouvindo Daniel contar uma tragédia atrás da outra, e em vez
      de tapar os ouvidos e correr para se esconder, continuava quieta e calma
      como se ainda o escutasse ao lado do laguinho contando suas façanhas da
      semana? (MASTRETTA, 1997, p. 80). A
      pluralidade de paixões é apresentada por um narrador onisciente, como se
      todas as cenas fossem vistas por um observador ideal, que vai pintando seu
      afresco, preenchendo-o com a corporeidade das figuras que se recusam a ser
      etéreas e mostram-se tão sólidas como a própria paisagem em que se
      situam. Ao invés do realismo maravilhoso, que foi uma das marcas do boom
      hispano-americano, tem-se agora um apelo direto à história, que se quer
      contada e só o componente ficcional consegue diluir, mas, não, apagar.
      Essa história exige a representação do território em que se desenrola,
      tornando-o um elemento imprescindível para a compreensão de uma cultura
      que, embora não sendo homogênea, permite que se estabeleçam com ela
      diferentes identificações.  | 
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 A
      primeira cor que os olhos de Diego Sauri viram foi o azul, porque tudo ao
      redor de sua casa era azul e transparente como a própria glória. Diego
      cresceu correndo entre a relva e rodando sobre a areia invencível,
      acariciado pela água de umas ondas mansas, como um peixe entre peixes
      amarelos e violetas. Cresceu brilhante, polido, coberto de sol e herdeiro
      de uma ambição sem explicações. (MASTRETTA, 1997, p. 8). A
      integração evidente entre personagem e território pode ser também
      notada no quadro Mãe camponesa, de
      David Siqueiros. 
 Realizado
    em 1930, Mãe camponesa  exibe a estética da modernidade, que busca inspiração no trivial,
    no fragmento e no feio, e nas raízes telúricas e culturais. Uma atmosfera
    hostil de abandono circunda como uma aura invisível essa mãe que é o
    reverso das madonas renascentistas; nela, forma e conteúdo se fundem, numa
    diferenciação impossível. A esse respeito, afirma Maria Zenilda
    Grawunder:   Ressaltando
      que a questão da relação entre forma e conteúdo, colocada de modo
      deficiente em relação à obra singular, nunca pode ser resolvida com
      precisão, Walter Benjamin, observa que forma e conteúdo não são
      substratos de conformação empírica, mas, antes, diferenciações
      relativas [...] 
      (GRAWUNDER,1996, p. 94). A
      mescla de cubismo e primitivismo pré-colombiano exibe a nostalgia do
      pintor, que atribui à tela um volume escultural, na unidade esquemática
      do desenho e na ausência de elementos decorativos. A regularidade do
      motivo curvilíneo reitera a planura do deserto, enquanto o vermelho
      mantém o fundo distintamente separado das figuras à frente dele.
      Abandona-se o realismo puro e simples para representar a visão pessoal do
      artista, que não é só a representação de cenas político-sociais, e,
      sim, a reflexão sobre elas. O
      humano e a natureza são os signos de um México que surge dramaticamente
      para o mundo, desmascarando-se, embora através do imaginário do artista;
      esses elementos interligados conseguem expressar o labirinto da
      solidão. A importância dessa
      interligação pode ser confirmada pelas palavras de Gillo Dorfles: Toda
      a tela pintada adquire um mesmo valor; cada parte dela adquire sua
      propriedade de signo; por isso não poderemos mais conceber um objeto -
      ainda que abstrato, imaginário - mergulhado em uma superfície amorfa,
      neutra, que lhe sirva apenas de suporte; mas teremos de conferir também a
      essa superfície o valor de "protagonista" 
      (DORFLES, 1992, p. 81).  | 
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 Aquela
      mulher tinha apenas dois anos a mais que ela, nunca tinha visto outra
      coisa além de abandono e fome, infâmias e maus tratos, [...] ter vinte
      anos, cinco partos, três filhos mortos e dois vivos, nenhum cônjuge
      fixo, nenhuma casa além do quarto onde se amontoava com uns parentes lá
      pelo bairro de Xonaca, nada parecia entristecê-la mais do que a
      entristecia estar raquítica e torta, medir a mesma coisa que uma criança
      de onze anos e carregar pelo mundo a sexta gravidez de um homem que não a
      comoveu nem por uma única noite. Apaixonar-se? Que invenção era essa?
      (MASTRETTA, 1997, p. 210). O
      elemento social, que se pode depreender desta cena, não é uma categoria
      de juízo estético, é, antes, um dado que antecede a obra e pode
      respaldar sua análise. A maneira simples de narrar torna-se a
      formatividade específica do romance, conferindo a Ángeles Mastretta a
      singularidade de um estilo, capaz de retratar costumes, idéias e aspirações
      do ambiente em que vive a romancista e também suas reações pessoais,
      sua vida interior. É preciso salientar que Mal
      de amores cultiva a claritas ou clareza da
      forma, de que falavam os medievais, como São Tomás de Aquino e Alberto
      Magno, uma clareza sem a qual não se atinge o belo. Nisso está implícita
      uma concepção da obra de arte como dialética entre formas tradicionais
      e inovadoras, uma tensão que deixa entrever o processo cognitivo do
      artista e realiza a comunicabilidade de suas intenções. Afastando-se do
      experimentalismo, Ángeles Mastretta não manifesta uma crise da arte; faz
      a opção por um discurso mais inserido em sua realidade histórica, na
      concreticidade de um terceiro mundo,
      como se dizia até pouco tempo ou mundo em desenvolvimento
      como se diz agora. A opção é evidente e torna a autora responsável por
      ela, pois sempre há vários caminhos a seguir. No dizer de Umberto Eco: A
      moralidade, a força do artista, mede-se no ato de situação por
      situação, escolher a sua solução, aceitando o juízo da história.
      Pode ser Joyce ao escolher desinteressar-se de tudo quanto sucede à sua
      volta [...], porque sabe que está a elaborar uma linguagem capaz de
      representar um mundo no qual havemos de viver um dia. Ou pode ser a
      escolha de Bretch que, temendo que falar de árvores seja um crime,
      decide, pelo contrário, denunciar os horrores do mundo em que vive. (ECO,
      1995, 
      p. 241). Influenciada
      pela tradição de seu ambiente cultural e pelos monumentos artísticos de
      que toma conhecimento, Mastretta faz-nos conhecer o presente e o passado,
      unindo o elemento criativo ao interpretativo. Interpretar a História
      parece também a razão de ser da obra Do Porfirismo à
      Revolução,
      de Siqueiros.  
 
 Assim,
      sentir-se só possui um duplo significado: por um lado, consiste em ter
      consciência de si; por outro, um desejo de sair de si. A solidão, que é
      a própria condição de nossa vida, surge para nós como uma prova e uma
      purgação, no fim da qual a instabilidade e a angústia desaparecerão. A
      plenitude, a reunião, que é repouso e felicidade, e a concordância com
      o mundo, nos esperam no fim do labirinto da solidão (PAZ, 1976, p.
      175-176). Aqui, a deformação, mais nítida que em Mãe camponesa, funciona plenamente, alongando desmesuradamente cavaleiro e cavalo, imprimindo à obra um clima de transgressão da estética tradicional [a forma utilizada é o que os italianos chamam de sotto insù, ou seja, de baixo para cima, o que empresta monumentalidade ao quadro]. Poder-se-ia dizer de Siqueiros que, num impulso antropofágico, deglutiu os ensinamentos de Paul Klee, adaptando-os à realidade ibero-americana. As inovações trazidas por Klee são comentadas por Gillo Dorfles:   [...]
      Klee reconhece, ele próprio, à linha o valor de medida,
      claro-escuro o valor de peso,
      à cor o valor de qualidade  e
      admite, então, implicitamente, que seu ductus linear seja acompanhado de
      uma gradação de valores tonais (oferecidos pelo claro-escuro) e de
      valores tímbricos oferecidos pela diferente qualidade da cor. O
      caminho e o percurso, eis o que nos diz e nos revela a linha de Klee: a
      sua vontade de introduzir na pintura moderna aquela dimensão de que hoje
      mais do que nunca se perceba a presença (DORFLES, 1992, p. 88-89).  | 
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 Outra
      é a opção formal de Diego Rivera. O motivo ainda é a Revolução, porém
      diferente foi o caminho trilhado para representá-la, como se pode
      observar nesse fragmento do afresco denominado Sueño de una tarde
      dominical, en la Alameda Central,
      executado entre 1947 e 48.  
  refreiam
    o ímpeto das anteriores. Em qualquer caso, sua ilustração de um mundo
    infernal abrange o ódio de seres brutalizados pela luta inglória, no
    heroísmo que se confunde com o crime. A essa banalização da crueldade, Ángeles Mastretta opõe a personagem Diego Sauri, pacifista radical que, mesmo numa situação extrema, se recusa a pegar em armas. Eis suas -  A proibição absoluta de matar um ser humano deve ser o
      princípio de qualquer ética coerente. Ninguém tem o direito de matar
      alguém - disse como havia dito sempre que precisava de um argumento para
      se opor à guerra. -  Você fala como
      se houvesse algum outro remédio - respondeu Milagros. -  Algum deve
    haver. Eu não quero ser herói. O heroísmo é um culto ao assassinato -
    sentenciou ele (MASTRETTA, 1997, p. 191). Se
      o romance de Mastretta propõe um menor desafio que os murais de Siqueiros
      e de Rivera, ganha, em troca, a espontaneidade surpreendente, que foi
      reconhecida quando lhe outorgaram o prêmio Rômulo Gallegos. É preciso recordar que há uma arte da angústia e outra, da
      placidez. Mastretta segue construindo sua literatura, manejando a palavra
      sem as sombras do hermetismo, mostrando-se autêntica mexicana, na
      narrativa de Puebla e autenticamente feminina na narrativa dos amores de
      Emília Sauri, amores nunca fracassados, sempre arrebatadores. 
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       Bibliografia BENJAMIN,
      Walter. Obras escolhidas. Magia e
      Técnica. Arte e política. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1985. CANCLINI, Néstor
      Garcia. Culturas híbridas. São
      Paulo: Ed.USP, 1998. DORFLES, Gillo. O
      devir das artes.  São Paulo: Martins
      Fontes, 1992. ECO, Umberto. A
      definição da arte.  Rio de Janeiro:
      Elfos, 1995. FUENTES, Carlos. Eu
    e os outros - ensaios escolhidos.
    Rio de Janeiro: Rocco, GRAWUNDER,
      Maria Zenilda. A palavra mascarada. Sobre a alegoria.
      Santa Maria: Ed. da UFSM, MASTRETTA, Ángeles.
      Mal de amores.  Rio de Janeiro: Ed.
      Objetiva, 1997. PAZ,
      Octavio. O labirinto da solidão e post. Scriptum.
      Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976. Reproduções SIQUEIROS,
      David Alfaro. Mãe camponesa e Do
      porfirismo à revolução.  Gênios da
      Pintura, no  63. São Paulo: Abril Cultural, pranchetas I e
      XII. RIVERA,
      Diego. Sueño de una tarde dominical en la Alameda Central.
      Cartão postal. Fotografia de José Villalobos. 
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