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CAMINHO DE SANTIAGO, EMIGRAÇÃO, PLAZA MAYOR e BALADA PARA UM POETA MORTO

  Nome do Autor: Reynaldo Valinho Alvarez  
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reynaldo@webcorner.com.br

Palavras-chave: Santiago - sincretismo ibero-americano - Goya

Minicurrículo: (Rio de Janeiro, 1931), formado em Letras, Direito, Economia e Administração, publicou quinze livros de poesia, dois de ficção, dois de ensaio e quatorze livros para crianças e adolescentes, além de participar de mais de vinte coletâneas de poemas, contos e ensaios, com outros autores, e de colaborar em jornais e revistas.  Foi laureado pelas principais instituições culturais do país, entre elas a Academia Brasileira de Letras, o Instituto Nacional do Livro, a Fundação Biblioteca Nacional,  a Fundação Cultural do Distrito Federal, e a Fundação Catarinense de Cultura, além de entidades em Portugal, no México e na Itália. Traduzido para o sueco, o italiano, o espanhol, o francês, o corso, o galego, o persa e o macedônio,  representou o Brasil  em festivais internacionais na Suécia, na Macedônia, no Canadá e na Espanha.  

Resumo: A jornada mística de Santiago de Compostela, contraposta à violência do cotidiano, o sincretismo ibero-americano da união amorosa galaico-ameríndia, a exposição ambulante de rostos goyescos a transitarem pela Plaza Mayor em Madri e o culto às tradições galegas na reverência ao poeta morto relembram, nestes poemas extraídos do livro  Das rias ao mar oceano, aspectos fundamentais da multifacetada cultura hispânica, representada agora no Museu Nacional de Belas-Artes pela belíssima exposição sobre a pintura espanhola do século XVIII.

Resumen: La jornada mística de Santiago de Compostela, contrapuesta a la violencia del cotidiano, el sincretismo iberoamericano de la unión amorosa galaicoamerindia, la exposición ambulante de rostros goyescos a transitar por la Plaza Mayor en Madrid y el culto a las tradiciones gallegas en la reverencia al poeta muerto evocan, en estos poemas sacados del libro Das rias ao mar oceano, aspectos fundamentales de las varias facetas de la cultura hispánica, representada ahora en el Museu Nacional de Belas-Artes por la bella exposición sobre la pintura española del siglo  XVIII.

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CAMINHO DE SANTIAGO 

Este caminho todo pedra e espinho,
onde não medra a relva ou o rosmaninho,
não é do apóstolo o chamado antigo,
anunciado em luzes na floresta
ao eremita de lendária gesta,
que nele viu sinal pressago e amigo. 


Este caminho de fumaça e asfalto,
em que todos desejam dar o salto
que os leve para fora do tumulto,
não é campo de estrela, é crua guerra
em que a turba se acirra, agarra e encerra,
para ao ouro e ao poder render o culto. 

Esta senda não leva a Santiago
nem à paz silenciosa de um afago.
O caminho das ruas rumorosas
conduz ao caos violento em que a alma tomba
sob o estrondo espantoso de uma bomba
que esmaga por igual larvas e rosas.
  

Vencer este caminho é dura pena
que nada tem da gloriosa e amena
jornada em que se vai a Compostela
para levar a Tiago o brilho e a palma
de uma fé solidária, ardente e calma,
acesa como a chama de uma vela. 

Este caminho é puro descaminho
e nele, aonde se vai, se vai sozinho,
sem a Tiago, o Maior, render o preito.
Aqui a tumba se revela clara
e cada um a encerra, como tara,
sob a arcada marmórea do seu peito. 

Ah, Santiago, o Maior, salva-nos disto,
por ti, por nós, por todos e por Cristo.
E transforma estas ruas noutra via
em que, as vestes bordadas de vieiras,
peregrinos em terras estrangeiras,
tenhamos, outra vez, uma alma pia.

 

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EMIGRAÇÃO 

Meu amor tem Galícias escondidas
e pedaços de Espanha recortados
contra o azul guarani de um céu a dois. 

Meu amor tem delícias e primícias
e de tal modo se entranhou em nós
que não temo vivê-lo mesmo a sós. 

Meu amor é um púcaro de barro
lavado pelas águas dos teus olhos. 

Meu amor é amar um mar de abrolhos.

 

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PLAZA MAYOR 

Diante de Goya, no Museu do Prado,
vejo sombras que as sombras circundantes
parecem reencarnar. Voltando à rua,
vou para o centro velho. Nestes rostos,
que me fitam ou não, há retratados
do mesmo Goya. Sombras tão goyescas
quanto as sombras que vi entre outras sombras.
Assombra-me o prodígio ao sol ardente
de uma Espanha estival. Que liame estreita
os vínculos dos tempos num só tempo?
Que força une as cadeias com que Cronos
ligou as mãos de tantos entre os séculos?
Agora encaro a praça e vou contando,
como os níqueis do bolso, tantos Goyas.

 

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BALADA PARA UM POETA MORTO
A Arino de Mattos
 

Lá onde há meigas, houve um bardo
de pena de ouro e mão de prata.
Sua alma voa, como um dardo,
por sobre o mar e sobre a mata,
imune ao sopro, atro e bastardo
do tempo vão, que morde e corta,
com suas presas de leopardo,
a carne viva e a carne morta.
 

Nos montes pôs seu velho fardo
de heleno errante ou de acrobata
que nunca falha o passo tardo
e sobre o fio, hirto, arrebata,
enquanto explode o alto petardo
do aplauso forte que o exorta
a, ungido em suave odor de nardo,
abrir, da glória, a ansiada porta. 

Doce Galiza, aqui retardo
meu passo, enquanto se dilata
um chão de areia, afeito ao cardo,
e ouço do bardo a voz exata.
Temo perder o som que guardo,
como essa luz, que a noite aborta,
enquanto, em febre, eu tremo e ardo
e um vento mau galhos entorta.
 

Galiza amada, este céu pardo
fala do bardo que a ele aporta.
Do chão das águias, felizardo,
tua visão o reconforta.

 

Sobre o autor:
Reynaldo Valinho Alvarez  
E-mail: reynaldo@webcorner.com.br
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Sobre o texto:
Texto inserido na revista Hispanista no 10
Informações bibliográficas:
ALVAREZ, Reynaldo Valinho.
CAMINHO DE SANTIAGO, EMIGRAÇÃO, PLAZA MAYOR e BALADA PARA UM POETA MORTO. In: Hispanista, n. 10. [Internet] http://www.hispanista.com.br/revista/artigo88.htm 
 

 

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